Diga-me o que bebes e eu te direi para onde ir. Opções Brasil afora não faltam: a cada semana, uma nova microcervejaria abre as portas por aqui. Parece muito? Esse é o cálculo que fez o Instituto da Cerveja do Brasil em um levantamento do ano passado sobre o nosso mercado cervejeiro.
 
Como 91% dessa produção está centralizada nas regiões Sudeste e Sul, fizemos aqui um post sobre como aproveitar essa abundância de boas cervejarias em São Paulo. Agora, montamos um roteiro do Centro-Oeste ao Sul, com muita cerveja boa para beber pelo caminho. 
 
Mas não custa ressaltar de novo: dá para fazer o roteiro de trem, de avião, de ônibus, de carona. Se beber, não dirija!

Goiânia e Pirenópolis

Vem de Goiânia a cerveja Colombina, que, além de gostosa, incorpora na receita ingredientes típicos da região do Cerrado. Tem IPA com rapadura Moça Branca (doce claro e macio, feito por pequenos produtores da região), Imperial Stout com castanhas de barú do cerrado (um tipo de amêndoa local), Saison com pequi... A carta de cervejas é bem variada e a fábrica pode ser visitada com agendamento prévio.
 
Ali pertinho, em Pirenópolis, a 120 quilômetros de Goiânia, vale conhecer a cervejaria Santa Dica (foto), que abre para visitação aos sábados. A cidade já é bastante convidativa para uma cervejinha sem pressa nas mesas de rua dos bares do centro histórico, mas ela fica melhor ainda com as artesanais locais. A Santa Dica produz apenas três cervejas vivas (Kolsch, Hibisco e IPA), mas o destaque vai para as garrafas, delicadamente trabalhadas, que retratam a pompa das tradicionais cavalhadas, celebrações trazidas pelos jesuítas que recriam torneios medievais entre cristãos e mouros. 

Belo Horizonte e Ouro Preto

A capital brasileira da botecagem tem algumas das melhores cervejas artesanais do mundo - sim, é do mundo mesmo. A Wäls (foto), cervejaria criada em 1999 e hoje vinculada à Ambev, recebeu em 2014 a medalha de melhor Dubbel na World Beer Cup, a copa do mundo da cerveja, realizada nos Estados Unidos. Já a Backer fechou 2016 entre as melhores da América do Sul no South Beer Cup, realizado em Curitiba, e levando o único prêmio brasileiro do European Beer Star, na Alemanha, com a cerveja Reserva do Proprietário, uma Old Ale envelhecida em barril de carvalho novo por 15 meses. 
 
Em uma ponta de Belo Horizonte está o bar e a fábrica da Wäls, no bairro São Francisco, com chope e comida simples e barata disponíveis apenas aos sábados, das 11h às 17h: direto do barril, prove a vencedora Dubbel ou a Petroleum, uma Russian Imperial Stout densa e licorosa. Para comer, o joelho de porco serve de duas a três pessoas. Do outro lado da capital, no Olhos D'Água, está o Templo Cervejeiro da Backer, mais gourmetizado. Funciona em diferentes horários de terça a domingo, com cardápio vasto e bem elaborado. Vá de almôndegas temperadas e Vienna Lager com a Capitão Senra ou IPA Pele Vermelha, da 3 Lobos.
 
 
E tem mais uma: quem vai para Ouro Preto pode conferir a cervejaria Ouropretana, fundada em 2011. Ela tem cinco estilos no portfólio, além das sazonais, e abriu no ano passado um pub com comidinhas apetitosas no centro da cidade histórica (a fábrica fica mais longe, no distrito de Cachoeira do Campo), que abre de terça a sábado. No intervalo entre as subidas e descidas de ladeira, prove a Amburana Brown Porter, que passa 10 dias no barril de Amburana, e a Ginger IPA, feita com gengibre.

Rio de Janeiro e Teresópolis

A 2 Cabeças (foto) é do Rio, mas também é fácil encontrá-la em São Paulo e em Minas Gerais. Lançada em 2011 por cervejeiros caseiros e ciganos (ou seja, sem estrutura física de distribuição), a cervejaria fez sucesso com a refrescante Maracujipa (uma American IPA potente com polpa de maracujá) e a Hi5 (Black IPA que lançou a cervejaria no mercado), além de produções em parceria com a Invicta, de São Paulo.
 
Quem visita a serra fluminense pode esticar o roteiro no bar da St Gallen, que produz a linha Therezópolis. A cervejaria fica em uma espécie de vila rústica germânica (com rua de comércio, capelinha, restaurantes...), toda em pedra e madeira, na cidade de Teresópolis, a 90 quilômetros do Rio.

Curitiba e Pinhais

A Bode Brown, de Curitiba, é uma das mais completas cervejarias do país, com escola cervejeira desde 2009 e até passeio de trem open bar: o Beer Train leva os visitantes por 70 quilômetros até a cidade histórica de Morretes, com degustações de cervejas, pães e queijos, além de almoço na chegada. Não deixe de provar a Imperial Cacau IPA e as envelhecidas em barril do portfólio, como a Double Perigosa, a Wee Heavy e a Atomga Imperial Stout
 
Quem quiser, pode ajudar no crescimento da empresa: para aumentar a produção da cervejaria sem precisar vendê-la, foi criada uma linha de produtos especiais cujo lucro é inteiramente investido em uma nova fábrica. Quem comprar esses produtos terá seu nome gravado nos tanques.
 
 
A dez quilômetros do centro de Curitiba, em Pinhais, está a Way Beer, cervejaria fundada em 2010. Destaque para as duas Porters - Cream e Avelã - e para a gostosa Red Ale, estilo irlandês que brasileiros não costumam executar tão bem. Na fábrica, além da visitação, rolam eventos temáticos com cervejas a preços promocionais, como oktoberfests, festas juninas e festivais de jazz e blues.

Blumenau e Forquilhinha

Hoje é fácil encontrar uma Eisenbahn nos supermercados do país inteiro, mas não era bem assim em 2002, quando a cervejaria abriu as portas em Blumenau. No grupo Schincariol desde 2008, a Eisenbahn ainda mantém a fábrica e um bar anexo, ao lado de uma antiga linha de trem. Nessa visita dá até para ir de carro: basta avisar na recepção que você está motorizado e eles oferecem um motorista cadastrado para, ao final do passeio, levar o cliente e seu carro de volta para casa. 
 
 
Já conhecida por ser sede da Oktoberfest, Blumenau aumentou sua força no cenário cervejeiro em 2007, quando passou a sediar o Festival Brasileiro da Cerveja. O festival teve mais de 130 expositores na última edição, em março deste ano. 
 
No sul do estado, a 200 quilômetros de Florianópolis e quase na divisa com o Rio Grande do Sul, está a fábrica da Saint Bier (foto), em Forquilhinha. Além da visita, você pode degustar a premiada Stout da casa com alguma das opções de batatas recheadas, especialidade do bar. A fábrica também produz, desde 2010, as gaúchas Coruja e Barco. 

Porto Alegre e Serra Gaúcha

Já que falamos da Coruja, comecemos por ela: famosa pelas cervejas engarrafadas vivas (lagers não pasteurizadas), a empresa foi criada em 2004 em Porto Alegre. Nossas favoritas são mais recentes, da linha Fora de Série, lançada em 2012, como a Labareda, feita com malte viena e pimenta, e a Coice, uma Bock tripla com canela e mais de 11% de teor alcoólico. Embora a fábrica fique em Forquilhinha, dois bares muito legais da cervejaria ainda ficam em POA, com ótimos chopes: a Toca da Coruja, lugar rústico de cadeiras na rua em uma esquininha da Cidade Baixa, e o Solar da Coruja, um casarão centenário no centro histórico, com cara de bar misturado com centro cultural.
 
Outras boas cervejas de Porto Alegre são a Barco, produzida na Saint Bier e responsável por receitas deliciosas como a da Folk, uma Double Amber Ale com beterraba, e a da Thai, uma Weiss com gengibre; e a Abadessa, uma das únicas cervejarias brasileiras a produzir Alt Bier, estilo alemão de alta fermentação da região de Dusseldorf.
 
 
Gramado despontou no cenário Cervejeiro com a Rasen e seus primeiros chopes, lançados em 2009 - entre eles, o premiado Dunkel, um dos nossos favoritos do portfólio. Mais recente é a sazonal Bagual, uma Brown Ale que é produzida apenas no mês de setembro, em homenagem à Revolução Farroupilha.
 
Outro delicioso destaque da serra é a Gram Bier (foto), cervejaria criada em 2013. Recomendamos a American IPA Granada e a Belgian Blond Ale Pecado, mas é difícil não querer provar todas ao mesmo tempo no simpático pub da fábrica, que tem comidinhas, chopes e garrafas para vender.
 
Ainda dá tempo para uma última indicação? Então estenda a viagem até Caxias do Sul, região do Vale dos Vinhedos, para conhecer a Imaculada, cervejaria de 2011, premiada com medalha de ouro na South Beer Cup do ano passado, que faz fermentação na garrafa e tem gostosas receitas de Pale Ale, Apa e Black Ipa.