Viajar sozinho é um assunto que divide opiniões: para alguns, a liberdade para se planejar e fazer o que bem entender em seu destino é tentadora; para outros, não ter uma companhia para os bons e maus momentos causa certa apreensão. Quando se trata de mulheres viajando sozinhas, a questão torna-se ainda mais divisiva. O livro “Mas Você Vai Sozinha?”, de Gaía Passarelli, traz uma luz para essa discussão. Documentando suas experiências pessoais e dando dicas para quem quer se aventurar sozinho por aí, o livro desmistifica algumas crenças e traz uma dose de inspiração para os viajantes.

 

Conversamos com Gaía para entender melhor como ela planeja suas viagens e, de quebra, ajudar quem também está nesse processo. Confira a entrevista na íntegra! 

 

Imagino que o processo de planejar uma viagem sozinha seja diferente de planejar uma viagem em grupo. Levar apenas os seus interesses e vontades em consideração deve ser libertador, mas também pode ser difícil para os ansiosos. Pessoalmente, você nota alguma diferença na forma como elabora seus roteiros para uma viagem sozinha?

 

Com certeza. Como você falou, a ansiedade bate forte. Comigo isso acontece por dois motivos. Primeiro é que estando sozinha eu tenho a oportunidade de fazer só o que eu quero, quando quero (e se quero) e por isso entro numas de me informar o máximo possível. Eu sou super nerd da viagem, às vezes faço até mapa com as coisas que quero ver, para salvar offline e usar depois. A outra coisa é que a gente fica mesmo mais vulnerável e a atenção (não a neurose) é necessária. Eu sempre me informo sobre como é a questão da mulher no país, tento agir de uma forma que me sinta segura. Enfim, eu planejo mesmo, sempre procuro ler bastante. Até porque conforme você vai planejando meio que já começa a curtir a viagem antes de começar, é gostoso.

 

Acredito que a questão da hospedagem seja a que mais pese na hora de decidir fazer uma viagem sozinho. Muitos optam por viajar em grupos para economizar em hotéis, por exemplo. Para você, quais são as melhores opções de hospedagem para quem viaja sozinho, e como evitar cair em ciladas?

 

Cilada acontece nos filmes, acontece na vida. Vou bater na mesma tecla da informação. Especialmente em hospedagens tipo Airbnb ou o lance é fazer o máximo de perguntas possível, sempre dentro do sistema do serviço, para poder acionar no caso de algo dar errado. Já aconteceu comigo. A "melhor" opção vai do budget e do gosto de cada pessoa. Tem quem prefere ficar em casa de família para absorver e conhecer mais a cultura (sou dessas), tem quem adora ficar em hostel pra conhecer gente, tem quem faça questão de hotel. Qualquer que seja sua opção, quanto mais informação você tiver, melhor pra você. E isso começa na hora de pesquisar preço. Eu confio muito mais na opinião de um amigo (ou amigo de amigo) no que de serviços tipo TripAdvisor.

 

Os idiomas diferentes também causam bastante insegurança. Imagino que a tecnologia colabore bastante para facilitar a vida nessas situações, mas na sua experiência, qual a melhor forma de aproveitar o destino mesmo sem falar o idioma local?

Acho que aprender a falar o básico, tipo por favor, obrigada e com licença, mostra uma preocupação da sua parte e abre portas. Quando alguém vê seu esforço, normalmente age com simpatia. Mesmo que você esqueça depois. Existe uma sensação errada de que todo mundo fala inglês em todo lugar, que é totalmente absurda. Agora, se não é o caso de aprender mandarim fluente para visitar a China, é o caso de de virar mesmo – existem aplicativos, guias de papel, linguagem de sinais. Em países onde o alfabeto é diferente do nosso, como na Rússia, também é comum ter serviço de guias fluentes em inglês ou espanhol, que ajudam na navegação no dia a dia.

 

Vemos muitos casos de mulheres que viajam sozinhas e sofrem episódios de violência. Embora esse tipo de violência seja algo estrutural e não de responsabilidade da mulher, você tem alguma dica para se proteger dessas situações e tornar a experiência da viagem mais tranquila, mesmo em lugares com culturas completamente diferentes? 

 

Mulheres sofrem violência independente de viajar. Nesse sentido, a gente não está mais mais segura em São Paulo do que em Lima ou Havana ou na Polônia. Mas é óbvio que as situações culturais, sociais e econômicas são fatores para levar em consideração, e por isso saber como a sociedade funciona onde você está indo é essencial. O melhor que a gente pode fazer, sempre, é tentar não chamar atenção pro nosso lado, e por isso respeitar as regras de comportamento locais é muito importante. Quando estamos sozinhas estamos mais vulneráveis a todo tipo de acontecimento, a informação e atenção são fundamentais. Outra coisa é tentar estar perto de outras mulheres. Ao contrário do que tentaram nos dizer a vida toda, mulher não quer o mal da outra. Mulheres se ajudam. Quando precisar, peça ajuda de outra mulher no seu caminho. A chance é que você vai receber.

 

 

Fale um pouquinho sobre o seu livro, e de onde veio a vontade de escrever especificamente sobre esse tema.

 

O livro é uma coletânea de crônicas de viagem e, apesar do título, em nem todas as histórias eu estou sozinha. Tem viagem com namorados, com filho, com amigos. Mas as histórias são invariavelmente sobre minha percepção dos lugares e o que acontece comigo nas viagens. É ilustrado por uma artista plástica super talentosa, a Anália Moraes, e no final de cada capítulo tem dicas de coisas para fazer, comer ou ver, além de dicas de músicas e conselhos específicos para mulheres viajando sozinhas. Muitas dessas histórias já estavam publicadas no meu blog, mas foram re-escritas para o livro.

 

Por último, queria saber qual é o seu destino favorito para viajar sozinha! 

 

A Itália é meu país favorito para viajar sozinha ou acompanhada. Como é um país bastante habitado e turístico, também costuma ser um destino muito seguro. Pra quem nunca viajou sozinha, acho que começar por perto e aos poucos é essencial para ganhar segurança. Tente ir num café, no cinema. Vá à praia, passe um fim de semana nas montanhas. Depois vá esticando e se preparando. Estar sozinha às vezes assusta mesmo!

 

 

 

Para quem se interessou, o livro “Mas Você Vai Sozinha?” pode ser encontrado na Amazon e em livrarias de todo o país. Você pode seguir a Gaía no Twitter, Instagram e no Facebook. Não deixe também de conferir o seu site, que possui ainda mais dicas sobre vários destinos! 

 

Se deu vontade de começar a planejar a próxima viagem, o Viajalá te ajuda a encontrar passagens e hotéis!

 

As fotos são de Camila Svenson e do arquivo de Gaía.