Estudar na América do Norte é um sonho antigo dos brasileiros, há muitos anos protagonizado pelos Estados Unidos. Mas, recentemente, o Canadá tem roubado a cena.
 
Segundo dados do Canadian Bureau for International Education, serão quase 500 mil estudantes internacionais de todos os níveis em terras canadenses em 2018 - 51% dos estrangeiros que estudam lá têm intenção de solicitar o visto de residência permanente. 
 
Além disso, o Canadá já reabriu suas fronteiras e aceita brasileiros completamente vacinados com Astrazeneca, Pfizer e Janssen, sem a exigência de quarentena. Por enquanto, o país ainda não liberou a entrada de vacinados com Coronavac, mas está em processo de liberação.

Por que escolher o Canadá

A facilidade de conseguir visto de estudo e trabalho, o dólar mais barato que o americano, mensalidades de cursos mais em conta e língua inglesa com pouco sotaque, parecido com o inglês dos Estados Unidos, são alguns dos motivos que fazem com que brasileiros que querem estudar na América do Norte escolham o Canadá. 
 
É o caso da jornalista e administradora de empresas Camila Piccolo, de 29 anos, que viveu em Vancouver por nove meses. “Sempre quis fazer intercâmbio para melhorar meu inglês e achava que vivendo o idioma 24 horas eu sentiria mais segurança para falar", conta. “Eu cogitei ir para a Austrália, mas, após assistir a alguns vídeos sobre o sotaque australiano, acabei optando pelo Canadá”. 
 
Os cursos mais comuns são os de inglês e francês (afinal, o país é bilíngue), de duração varável; os de "high school", ensino médio, com duração de um semestre; os de "college", formação em faculdades, como pós-graduação, de seis meses a dois anos; e os de universidades, voltados para pesquisa e procurados principalmente por quem já cursa Mestrado e Doutorado no Brasil e quer conduzir parte de sua pesquisa no país, por um ou dois semestres.
 
Além de fazer curso de inglês por três meses, Camila complementou sua vivência com um college de Gestão Administrativa, área em que atua, por seis meses. “Hoje vejo que o grande benefício do intercâmbio é o crescimento que ele proporciona. Voltei mais forte, sabendo mais sobre mim, pessoal e profissionalmente", conclui Camila. "É uma experiência que abre nossa cabeça e que nos torna melhores em todos os sentidos.”
 
 
Alguns dos desafios vividos por ela são bem comuns aos estudantes estrangeiros: o alto custo de vida, a cultura local, mais recatada que a brasileira, os frequentes dias chuvosos e a necessidade de se virar em outra língua. “Coisas do dia a dia, como fazer a carteirinha do transporte público, a carteira de trabalho, abrir conta no banco, reconhecer produtos no supermercado, estudar, ficam mais difíceis quando feitas 100% em inglês", lembra.

Como tirar o visto canadense: estudos ou trabalho?

Para tirar o visto de estudante por conta própria, junto aos consulados ou à Embaixada Canadense, é preciso falar inglês ou francês para preencher os formulários, ter a carta de aceite da instituição onde você vai estudar e um passaporte válido por mais de seis meses. Além disso, é necessário comprovar que você tem dinheiro suficiente para pagar as taxas e os custos da escola, da sua estadia e da passagem de volta, seja com uma bolsa de estudos ou com dinheiro próprio. Também podem ser exigidos comprovantes médicos e de antecedentes criminais.
 
Com os documentos em mãos, é só checar sua elegibilidade para o visto e fazer a aplicação online, preenchendo os campos e inserindo os documentos pedidos. Se houver dúvidas na hora do preenchimento, você pode recorrer a uma agência especializada. Foi o que fez Camila - tanto no Brasil, ao fazer o visto, quanto no Canadá, para escolher onde ia estudar. “Fiz dessa forma para ter mais segurança de que tudo correria bem", comenta a jornalista. "Porém, hoje, se eu fizesse outro intercâmbio, provavelmente faria tudo por conta própria”, conta. O visto concedido no seu caso tinha validade de nove meses, com permissão apenas de estudo nos primeiros três, durante o curso de inglês, e permissão de estudo e trabalho nos seis meses restantes.
 
No Canadá, cursar apenas inglês não dá direito ao visto de trabalho. "Essa permissão só é concedida se o estudante estiver envolvido em outros cursos, como graduação ou pós-graduação", explica. Enquanto cursava os seis meses de college, Camila aproveitou a licença para trabalhar como recepcionista em um restaurante. "Eu precisava explicar o menu aos clientes, ou seja, praticava o inglês o tempo todo. Além disso, trabalhos como esse remuneram bem, o que me permitia pagar a maioria das contas."
 
 
Já o doutorando em Cinema da Universidade de São Paulo - USP, João Vitor Leal, 31 anos, teve problemas para adquirir o visto canadense por conta própria. Ele aplicou para fazer parte da pesquisa de sua tese em Montreal por um semestre, como bolsista, e teve o pedido negado. "O problema é que você não sabe o que fez de errado, apenas recebe uma carta avisando que negaram seu visto", lamenta. "Não houve diálogo com o Consulado Canadense e nem com a Embaixada para ajudar a entender o que houve e isso acabou atrasando o meu processo". 
 
Depois, João Vitor descobriu que tudo não passou de um problema de interpretação: ele preencheu a documentação de forma equivocada, acreditando que precisava de um visto de estudos quando precisava, na verdade, de um visto de trabalho. "A Universidade que ia me receber no Canadá havia recomendado que eu pedisse um visto de estudante, mas, para a Imigração Canadense, fazer pesquisa de Doutorado é considerado trabalho", explica.
 
Devido ao prazo apertado para solicitar outro visto e por receio de ter novas surpresas no caminho, João acabou recorrendo também a uma agência. "Se você sabe exatamente qual visto precisa tirar e fala francês ou inglês, dá para fazer a solicitação por conta própria, já que o sistema online funciona muito bem. Mas é importante ter clareza de qual é o visto correspondente à sua atividade no país, para não ter risco de errar o preenchimento", recomenda. "A agência só será necessária se você tiver alguma dificuldade."
 
Antes de abrir o processo, também é importante saber exatamente qual será a cidade de residência no país. "As províncias canadenses possuem muita autonomia e até para tirar o visto, que é de ordem federal, há variações nas exigências e nas etapas dependendo do destino", avisa o estudante. 

Quanto custa fazer um intercâmbio no Canadá

 O custo total da experiência de Camila, entre gastos com o visto, as aulas e os nove meses de moradia, alimentação e transporte, ficou em torno de R$70.000. Suas despesas eram, mensalmente, de cerca de 1.400,00 dólares canadenses - desse total, cerca de 650,00 dólares eram gastos no aluguel do apartamento que Camila dividia com mais duas estrangeiras. "Vancouver é a cidade com o custo de vida mais caro do Canadá, mas vale a pena porque a qualidade de vida também é altíssima, já que é considerada uma das melhores cidades do mundo para se viver".
 
 
Quem prefere ir para Montreal, pode conseguir economizar um pouquinho, já que o custo de vida é mais baixo: tem média de 1.200,00 dólares canadenses, incluindo os gastos básicos de moradia, alimentação e transporte. "Quem está disposto a dividir apartamento com mais gente, consegue pagar em torno de 300,00 dólares, com tudo incluso. Por a partir de 500,00 dólares mensais, já dá para morar com um certo conforto", conta João Vitor. "Uma alimentação simples fica em torno de 350,00 dólares canadenses por mês".
 
Quem pretende fazer pós-graduação em uma universidade canadense deve considerar um gasto extra na conta, já que, no geral, o ensino superior, mesmo público, não é gratuito e é mais caro para o estrangeiro. Em Montreal, por exemplo, além da mensalidade, há uma taxa de matrícula e um seguro estudantil obrigatório de mais de 300,00 dólares canadenses - e os dois, taxa e seguro, devem ser renovados a cada três meses. Sem bolsa ou convênio com a sua universidade no Brasil, o custo anual total pode passar de 20 mil dólares canadenses.